Foi assim que a assistente virtual ANeFa deu início à grande reflexão sobre o Phuturo.
O mote estava lançado: é no presente que se começa a edificar o futuro. No caso das farmácias, o «futuro começou a ser construído há 50 anos», como referiu Maria da Luz Sequeira, referindo-se ao cinquentenário da ANF, âmbito do qual partiu esta iniciativa.
Com a evidência de que o mercado está a mudar a todo o momento e que a Inteligência Artificial (IA) veio para transformar o mundo, as farmácias têm sido confrontadas com novos desafios em saúde, dos quais se destacam o envelhecimento da população, a polimedicação e o aumento de doenças crónicas.
Durante os dias 10 e 11 de maio, os proprietários de farmácia estiveram reunidos em Tróia, Setúbal, para partilhar ideias e construir o amanhã das farmácias.
O tema central dos trabalhos da manhã de sábado foi a IA e a conclusão foi unânime: a IA pode ajudar a reduzir tarefas administrativas, através da automatização de processos, permitindo ao farmacêutico fazer uso do seu tempo para fortalecer a maior valência das farmácias: ter uma relação próxima com as pessoas.
O programa do primeiro dia arrancou com Paulo Dimas, que defendeu a importância da regulamentação da IA para melhorar as soluções em saúde. A implementação desta ferramenta, diz, deve ser baseada num conjunto de guidelines a três níveis: equidade, privacidade, e questões de segurança e legalidade.
O CEO do Centro para a IA Responsável alertou ainda para o aumento do consumo energético a cada novo modelo de IA: «o conceito de IA responsável também deve envolver um consumo de energia responsável».
Coube a Tiago Bartolomeu apresentar o potencial das soluções de IA aplicadas à área da saúde. O CEO da HMR – Health Market Research lembrou que «a IA não é uma tecnologia que temos de adotar, é um elemento das nossas vidas». E é inegável que esta tendência esteja a mudar a Saúde e a forma como se promove o bem-estar.
Ainda assim, alerta Tiago Bartolomeu, apesar de ser o terceiro setor com mais investimento em IA, a Saúde não está na linha da frente no que diz respeito à sua utilização, sendo necessário dar esse salto para criar uma «interação positiva».
«Tudo o que possa ser a automatização é ótimo em termos de economia de custos», disse. Por isso, é possível «beneficiar do que a IA traz, sem descurar a relação humana que o farmacêutico tem com o utente». No fundo, diz-nos o CEO da HMR, é preciso «confiança e responsabilidade na IA», particularmente numa área que lida com dados tão sensíveis, como é o caso da Saúde.
Depois de apresentar como o setor da Farmácia está a incorporar a IA aos níveis europeu e global, o diretor Político-Institucional da ANF destacou o potencial dos chatbots aplicados à farmácia, para lembretes de medicação, integração com sistemas de saúde, apoio personalizado e monitorização da adesão. Manuel Talhinhas salientou que, deste modo, a ferramenta pode potenciar «o que as farmácias tão bem sabem fazer: estabelecer uma relação de proximidade e confiança com os utentes».
A manhã prosseguiu com uma mesa-redonda, moderada pela jornalista Ana Peneda Moreira, onde foram debatidos os desafios e as oportunidades da IA. Tiago Bartolomeu defende que «é necessário vigiar atentamente a utilização, de forma a minimizar riscos. Temos de assegurar que as nossas interações são responsáveis».
Por outro lado, Paulo Dimas afirma que é essencial fazer uma «integração de dados, para que estes possam ser correlacionados através da IA. Ter mais dados pode ajudar a salvar vidas».
«Muitas vezes a questão fica centrada no diagnóstico, mas a curto prazo também é possível aumentar a eficiência de processos, o que permite ganhar tempo e recursos para observar a pessoa», resumiu.
Ema Paulino é perentória: «o nosso futuro contemplará certamente a IA. As farmácias sempre tiveram abertura para encontrar formas inovadoras de cumprir a nossa missão e ultrapassar novos desafios».
De facto, e como salientou a presidente da ANF, «as pessoas estão mais exigentes em relação ao que as farmácias lhes podem dar e têm a expectativa de que as suas preferências sejam acomodadas nos cuidados de saúde».
Nesse sentido, a IA pode ajudar a conhecer o padrão de consumo da pessoa, contribuindo para uma personalização de cuidados. No fundo, esta ferramenta pode traçar um caminho para o que mais se receia perder: a relação de confiança com a população.
Durante a tarde, os participantes tiveram a oportunidade de discutir temas de interesse para o setor, em grupos de trabalho temáticos: gestão de informação; farmácia mais clínica; gestão de pessoas; sustentabilidade (ambiental, social e governança); e tecnologia. As conclusões foram apresentadas na manhã de domingo.
E porque não só de reflexões o Phuturo foi feito, a tarde culminou com momentos de networking, seguindo-se um jantar ao som do grupo Os Bandidos do Cante. Em paralelo às sessões e aos grupos de trabalho, as famílias dos Associados tiveram também a oportunidade de desfrutar de atividades de diversão.
Já no domingo, após ter elogiado os contributos das farmácias, Ema Paulino encerrou os trabalhos com um balanço do evento. Ao traçar uma visão do futuro do setor, a presidente da ANF admitiu que as novas tendências «trazem desafios ao nível de serviço de valor acrescentado».
Por isso, as farmácias têm de ser capazes de «antecipar tendências» ao mesmo tempo que evidenciam o seu valor. «A qualificação dos profissionais da nossa rede e a proximidade à população permitem ter um capital de confiança para alargar a intervenção das farmácias», referiu.
O Phuturo confirmou-o e Ema Paulino não tem dúvidas: «Existe espaço para uma farmácia do futuro. As novas tendências têm de deixar-nos desconfortáveis ao ponto de nos querer fazer evoluir enquanto profissionais e instituições de saúde».
A iniciativa Phuturo insere-se no âmbito das comemorações dos 50 anos da Associação, em parceria com a Farmacoope, com o apoio da Alliance Healthcare e da Glintt Global, e organização da Escola da ANF.